Festa de aniversário
No supermercado escolheu das
estantes de festa aquilo que mais lhe chamou a atenção.
37 velas azuis. Pratos pequenos
azuis.
Copos de papel azuis. Talheres
de plástico azuis.
Bordas de mesa azuis. Chapéus
azuis.
Bexigas azuis. Confetes e
serpentinas coloridos.
Nos refrigerantes pegou coca,
pensando que alguém poderia gostar desse caramelo líquido. Soda.
Pegou duas garrafas de vinho
gato negro e uma do porto, 69 reais e 35 centavos.
Dois litros de vodka Orloff.
Pães, doces de lata e duas
barras de chocolate.
Cigarros.
Na fila acendeu um deles e logo
foi interceptado pelo segurança do estabelecimento. Pensou ser a lei
antitabagismo ingrata. Enquanto apagava o cigarro no sapato sentiu-se um
idiota. Iria certamente pedir um desconto no valor da compra, já que teve que
descartar parte do produto.
Não respondeu quando a caixa
perguntou se tudo aquilo era para a festa de seu filho. Achou que as pessoas
não precisavam cometer a violência de ter uma educação mentirosa.
Alguém não percebe isso?
Lembrou-se de “faça o seu
pedido, senhor”. “batata grande por mais um real, senhor?” Protocolo maldito.
Script infinito de um mesmo ator infinito, de um sorriso falso e infinito.
Pagou com o cartão de crédito.
- Bandeira, senhor?
Apontou a marca VISA.
- Bandeira, senhor?
Apontou com dois dedos e
balançando o cartão a marca VISA.
- Bandeira, senhor?
Parecia querer fazer com que o
homem falasse, já que não respondeu para quem era a festa.
- A senhora é cega?
- Bandeira, senhor?
- VISA.
Era bonita a caixa. Tinha lábios
grossos e cabelos cacheados.
Pode ver parte de um de seus
mamilos pelo decote. Saliva na língua.
Via luzes que eram resquícios de
Natal. OFERTA. OFF. DESCONTO. 30. 40. 50 até 90 por cento. Famílias compravam
presentes atrasados.
Saiu.
Estacionou o carrinho de compras
ao lado de um Santana 92. Deixou a festa dentro do porta-malas e percebeu que
tinha perdido o cartão de estacionamento.
Não ia procurar gente competente
para resolver o problema. Renavam, placa e condutor.
Colou em um Gol e quando a cancela
abriu passou como se fosse um vagão do primeiro. A cancela tocou o porta-malas
como se desse um tapinha na bunda de “vai nessa!”.
No trânsito era calmo e gostava
de ouvir música brasileira.
89,7.
Fazia do volante percussão.
Parava nos sinais amarelos,
mesmo que alguém atrás desse farol.
Calmamente... Calmamente...
Os vidros sempre
fechados, mesmo que o sol castigasse.
Suava às vezes.
Sentia o corpo
arrepiar de calor.
Sem ar
condicionado.
Buzinou curto para
o porteiro, que logo avistou o velho santana de seu Fernando, vulgarmente
chamado de “gato de botas” pelas crianças.
Ele nunca entendeu
o apelido.
Entrou no elevador
e logo atrás dele entrou a moradora do 96.
Quase todos os
dias encontrava dona Cláudia, que saía para o banho de sol de sua gata.
Gata branca e
gorda que parecia sempre dopada, olhava para os lados em movimento lento. Era
uma esfinge bêbada.
Elevador estático.
Mulher de seios
fartos, decote imenso. Pernas grossas e sempre de calça colada, isso fazia com
que se visse delineadamente seu órgão genital dividido, apertado.
Havia nele todas
as vezes que a via uma vontade quase incontrolável de morder os peitos de dona
Cláudia, morder a bunda e com violência invadi-la. Imaginava-se arrancando os
mamilos, e mastigava como chicletes.
Saliva na língua e
bochechas.
Sentiu inchar
entre as pernas.
- Bom dia, senhor
Fernando.
- Bom dia, dona
Cláudia.
- Vai ter festa
hoje?
Tentou esconder os
enfeites no saco de papel.
- Não, não. Nada
de especial. Faço mais um inverno.
- Primavera, seu
Fernando.
- Não, inverno
mesmo.
- Mas o ditado diz
primavera.
- Depois dos 40 se
faz inverno, ou melhor, dona Cláudia, contagem regressiva. Mas que seja
primavera então, dona Cláudia.
Que horror, seu
Fernando (arrumou o decote, para baixo, quase o mamilo todo apareceu)
Ele sem pudor
algum olhou para o decote da mulher. Suas pupilas dilataram, queria mergulhar.
Elevador estático.
Bochechas são represa
de saliva.
Como de costume,
ela se virou para deixar a gata no chão. A esfinge bêbada caiu. A mulher se
virou e deixou a mostra sua imensa bunda, redonda e um pouco flácida. Dividida.
A calça branca dava a impressão que aquela bunda se transformava em uma lua,
cheia. Qualquer homem romântico cantaria pra essa lua, faria pra ela uma
serenata masturbatória.
Ele queria
invadi-la e depois jogá-la fora. Jogá-la do nono andar.
Seria carne
pulsante, e logo depois carne moída.
- Caso for fazer
uma festinha não esqueça de me convidar. O senhor sabe que adoro uma festa.
Como dizem, sou arroz de festa. (um sorriso que o escaneou) Pareceu ter
percebido o volume na calça do homem.
- Convidarei, dona
Cláudia.
Elevador estático.
Apertou o décimo
sétimo andar.
Enquanto o
elevador subia, via o decote e sentia seu membro crescer. Sem pudor o ajeitou.
Ela
deliberadamente viu.
- Ia me esquecendo
de apertar o meu andar.
Apertou o número
9.
- Esse elevador
sobe rápido, não acha, seu Fernando?
- Sim, sobe
realmente rápido. Rápido demais. É a tecnologia, dona Cláudia.
- É sim, seu
Fernando, a tecnologia.
Um silêncio
perigoso se fez em dois metros quadrados.
Queria enrabar
aquela mulher. Certamente se esbarrasse sem querer no botão de pane teria a
possibilidade de liberar rapidamente aquila bomba orgásmica que estava dentro
de si. E ela certamente se deliciaria por rápidos cinco minutos.
- Até logo, seu
Fernando. (virando-se para pegar a gata)
- Até logo, dona
Cláudia.
Ela saiu deixando
um cheiro de gato no ambiente.
Tentou abrir a
porta com os sacos de supermercado nas mãos. Irritou-se e os deixou sobre um
vaso, amassando uma das mudas de qualquer coisa.
Eram três chaves
diferentes.
Alto
Meio....................................segredo
Chão
Em São Paulo morar
em apartamento pode ser perigoso, quanto maior o número de suspeitos, maior a
probabilidade de arrombamento. 4 apartamentos por andar. 17 andares. 3 blocos.
Cada apartamento com aproximadamente 4 pessoas.
Quase 820 suspeitos.
Era dia de seu
aniversário.
Às 4 e meia da tarde
começou a escolher as músicas que tocaria quando os convidados começassem a
chegar. Tentou se lembrar da hora exata em que chegariam. Talvez às 7, ou 8 e
meia.
Separou alguns
CDs. Em ordem programava:
CD 1 - Titanomaquia
CD 2 - Dois
CD 3 - Cena
de cinema
CD 4 - Várias
Variáveis
CD 5 - Quatro
estações
CD 6 -
Descivilização
CD 7 - Extraño
CD 8 - Viva
CD 9 – Rachando
Concreto
CD 10 –
Eletricidade
PLAY
“Será que é isso que eu necessito?
Será que é isso
que eu necessito?
Quem é que precisa
tomar cuidado com o que diz?
Quem é que precisa
tomar cuidado com o que faz?”
Enchia as bexigas
e batia os pés
Estourava algumas
Outras enchia até
o ponto de estourá-las propositalmente.
Outras enchia e
enfiava as unhas.
De dois pacotes
com 40 sobraram 19. Azuis.
Separou-as em
quatro, um grupo em cada canto da sala, e três delas penduradas no lustre.
Arrastou a mesa
para o centro da sala e a decorou com bordas azuis. Colocou os copos azuis, os
pratos azuis e os talheres azuis sobre a mesa.
Exatamente às 6
horas tocam o interfone.
- Seu, Fernando.
Tem uma entrega aqui para o senhor, posso mandar subir.
- Que entrega?
(por momento esqueceu de sua festa de aniversário)
- A dona (qual é o
seu nome mesmo?) Matilde disse que tem um bolo pro senhor.
- Manda subir,
pego no elevador.
- Pois não, seu
Fernando.
Colocou um chapéu
de festa azul e aumentou o som.
“O sonho é popular. Eu li isso em algum lugar. Se não me engano é
Ferreira Gullar falando da arquitetura de um Oscar”
Logo viriam os
convidados.
Não tomou banho,
não se arrumou, sentia-se limpo escovando os dentes.
A campainha tocou.
Alto
Meio..................................segredo.
Chão
- Boa tarde, seu
Fernando.
- Boa tarde,
(esqueceu o nome)
- Dona Matilde,
seu Fernando.
- Boa tarde. Eu
disse ao porteiro que ia pegar a encomenda no elevador.
- Pois é, seu
Fernando, fiquei esperando, não demora tanto assim pra subir até aqui.
- É a tecnologia,
dona Maria.
- Dona Matilde,
seu Fernando.
- Pois é, é a
tecnologia.
- É. (silêncio)
- Quanto é?
- São 7 quilos.
Fica em cento e cinquenta reais, seu Fernando.
Deu uma de cem e
uma de cinquenta.
- Sabe o que é,
seu Fernando. Como tive que entregar, vou ter que cobrar mais 10 da gasolina.
Deu duas de cem.
- Passar bem, dona
Maria.
- Dona Matilde,
seu Fernando. A festa já começou, o senhor já está de chapéu? Que azul lindo, o
senhor deve gostar dessa cor, não é mesmo.
- Não, dona Maria,
eu não gosto de azul. A propósito, eu odeio azul.
Fechou a porta.
Colocou o bolo com
cuidado em cima da mesa. Desembrulhou. Leu.
PARABÈNS
- Mulher imbecil,
colocou o acento pro lado errado.
- Pegou uma faca e
cuidadosamente retirou a camada de doce de leite que formava o acento grave.
Cirurgicamente transformou em agudo.
O bolo era azul.
Passou o dedo
indicador na lateral da edificação, levando parte da cobertura pra boca. Sentiu
o chantily se espalhar pela língua. Açúcar em pasta.
Andava pela sala.
De ponta a ponta. Do chão ao teto. Via pela janela e embaixo luzes vermelhas.
Via os apartamentos acesos, brancos diferentes. Alguém à frente discutia. Não
ouvia, mas gesticulava feroz. Uma mulher.
Fernando andava
pela sala. Rodeava a mesa em que cochilava o bolo azul. PARABÉNS. Havia uma
cicatriz no acento. Os convidados iam perceber.
Pegou o mesmo
bisturi e arrancou o acento. Comeu o erro.
Andava em volta da
mesa.
Pegou o saco de
confetes e jogou por toda a sala, e por sobre a mesa. Granulou o bolo.
Andava em volta da
mesa.
Ajeitou o chapéu e
olhou para o relógio. Seu coração pareceu acelerar.
Foi até o seu
quarto, abriu a segunda gaveta do criado mudo à direita e de lá tirou um 38.
1-2-3-4-5-6. Municiou. Colocou na parte de trás da calça. Foi à sala e aumentou
o som.
“O arco-íris tem sete cores. E fui juiz supremo.
Vai, vem embora,
volta. Todos têm suas próprias razões”
Colocou uma blusa
pesada e saiu rápido.
Meio...........................
sem segredo.
Suava enquanto
esperava o elevador.
Suava dentro do
elevador.
Suava em contagem
regressiva.
Saiu rápido do
prédio. Não respondeu ao cumprimento do porteiro, que pensou o homem ter
esquecido alguma coisa em algum lugar.
Andava pela rua
rápida. Eram rápidos os passos. Arrastava os sapatos.
O centro de São
Paulo às sete e meia fervilha. Uma cidade em ebulição.
Via rostos
passarem, rápidos.
Via mulheres
gordas que pareciam rolar rápido.
Viam um homem de
chapéu azul.
Homens de gravata.
Sorrisos.
Vendedores de
cachecol. Bolivianos.
Vendedores de
milho.
Putas encostadas
no paredão de um edifício interditado. 1922.
Uma mulher
gargalhava e fumava.
Parou pra ver a
fumaça, que se desfazia na luz.
Em frente à
estação Anhangabaú do Metrô via namorados.
Encoxavam as
meninas. Elas se esfregavam.
Sentiu um pingo
escorrer pela espinha.
Arrepio.
Ameaçou pegar a
arma. Desistiu.
Entrou no fluxo de
pessoas e subiu as escadas rolantes em direção à rua Coronel Xavier de Toledo.
Mulheres cochichavam
quando viam o homem de chapéu.
Procurava.
Olhava para os
lados, feroz.
Seus passos eram
longos.
Era um ponto azul
em meio a multidão. Não pedia licença, topava ombros e dava cabeçadas em
guarda-chuvas.
O chapéu era seu
guarda-chuva.
Em frente ao Teatro
Municipal parou. Olhou para os lados em um giro de 360. Outro giro. E outro.
Olhava as pessoas passarem velozes. Riam do chapéu.
Nas escadarias do
Teatro viu um casal, que parecia discutir. A mulher gesticulava como aquela do
apartamento à frente.
Ele ameaçou pegar
o revólver. E fixo foi em direção ao casal.
Há poucos metros
tirou o revólver da calça.
- Cala boca, filha
da puta! (para o homem)
- O que foi, cara?
A mulher se
distanciou e ia correr.
Ele a pegou pelo
braço.
- Vadia, fica
aqui!
As pessoas
passavam rápido por sua rotina. O teatro depois da reforma era ainda o mesmo,
as pessoas não-identificáveis eram as mesmas. As luzes eram as mesmas. As
sombras eram as mesmas.
- O que você quer,
cara? Fica com minha carteira! Deixa eu ir embora! Solta minha namorada!
- Essa é sua
namoradinha, seu filho da puta? Porque ela está te esculachando? O que você
fez?
- Não fiz nada,
não é da sua conta!
- O que ele fez,
menina? Me conta!
- Me larga, seu
louco! Eu vou gritar!
- Se gritar vai
ter que gritar pelo buraco da bala, sua vadia, porque te dou um tiro que
atravessa seu pulmão.
- Você é louco,
deixa a gente ir embora, o que você quer? Quer dinheiro, porra! Pega minha
carteira!
- Não quero essa
porra!
- O que ele fez,
menina, me fala, sua filha da puta?
- Deixa a gente em
paz, moço. Pelo amor de Deus!
Segurava no braço
da menina com força. Fazia com que o cano da arma machucasse as costelas.
- Moço, me diz o
que o senhor quer. A gente dá e o senhor vai embora.
- Porra, cara,
larga a minha namorada!
As pessoas flutuavam
pela falta de percepção e automaticamente caminhavam como formigas, que
carregavam seu próprio peso em problemas.
- Escuta aqui,
vadia, e você, seu filho da puta, eu quero saber porque estavam discutindo. Se
não eu furo essa menina. Porra!
- Tá bom, conta
pra ele.
- Conta você, seu
desgraçado! (disse a menina)
- Ah, a coisa está
começando a ficar divertida. É, conta, seu filho da puta!
- Eu saí com a
irmã dela.
- Porra, você é
muito filho da puta mesmo.
A menina chora.
- Não chora,
menina. A vida é assim mesmo, quando a gente confia em alguém se fode. Tá me
ouvindo, se fode.
- É.
- Repete, menina:
Se fode!
- Se fode! Se
fode!
- Para com isso,
cara! Deixa a gente em paz!
- E você ainda ama
esse panaca, mesmo depois de ele ter feito isso com você?
… silêncio.
- Responde, sua
vadia.
- Sim.
- É o seguinte, eu
vou deixar vocês em paz sim. Só depois de aceitarem um convite.
- Que convite,
cara! Você é louco!
- Está vendo isso
que está na minha cabeça?
- Sim. É um chapéu
de festa.
- Então vocês
estão convidados para uma festa de aniversário.
- Que festa de
aniversário? Você é louco!
- A minha festa de
aniversário. É o seguinte, chama um cara qualquer aí, menina.
- O que? Como
assim chamar um cara qualquer?
- É, porra, vê um
bonitão aí e chama. Seguinte, você vai dar em cima do cara e vai convidá-lo pra
uma festinha. Vou te dar o endereço (tira do bolso um papel). Vocês vão até aí
e falem pro porteiro que querem ir ao apartamento do gato de botas.
- Gato de botas?
- É, porra, gato
de botas, não conhece contos de fadas, menina?
- Tudo bem.
- Eu e seu
namoradinho sacana estamos indo. Espero vocês lá em dez minutos, no máximo. E
se realmente gosta desse filho da puta, é melhor você ir, se não o próximo
encontro será no necrotério.
Ele pegou no braço
do rapaz, e rápido entraram no fluxo das formigas.
O caminho foi
feito sem que nada se tornasse suspeito. Eram grandes e velhos amigos.
- Boa noite, seu
Fernando.
- Boa noite,
(esqueceu o nome).
Contagem
1-2-3-4-5-6-7-8-9 parou (rezou para que não fosse a maldita dona Cláudia)
10-11-12-13-14-15-16-17.
Meio............................
sem segredo.
“Se nascemos só uma vez. Isso é o melhor que pode fazer?”
- O que é isso,
cara, abaixa essa música!
- Cala a boca,
filho da puta!
- Você é louco.
Você fez uma festa. Aonde estão as pessoas, cara?
- Estão chegando.
Colocou o rapaz em
uma cadeira e nela o amarrou.
- Você tá me
machucando, cara!
- Me diz, seu
desgraçado. Como foi comer a cunhadinha? Foi bom?
- Do que você tá
falando?
- Você não comeu a
cunhadinha, cara? Como foi? Foi bom?
Apontou o revólver
para a cabeça do rapaz. Encostou o cano na testa. Forçou.
- Porra, cara,
isso machuca! Pelo amor de Deus, cara, não me mata.
“Às vezes, só do inferno é que se vê o céu. Saia dos seus sapatos
e tente andar nos meus”
- Será que sua
namoradinha gosta tanto de você a ponto de vir te buscar no inferno, seu filho
da puta?
- Eu não sei,
cara!
Ele chora como
criança.
- Quando você
estava comendo sua cunhadinha você não chorou, né? Como foi, de quatro? Frando
assado? Me diz, seu filho da puta!
- Tá bom cara, foi
de todos os jeitos. Pelo amor de Deus, não faz nada comigo!
- Seu desgraçado!
Deu uma coronhada
no homem chorão.
O interfone.
- Seu Fernando,
tem um casal aqui procurando o senhor, pode subir pra festinha?
- Pode, seu
(esqueceu o nome). Pode.
- Sejam bem
vindos.
Ela entra
assustada, e seu acompanhante entra de peito inchado, pensando que tinha
faturado a gostosinha.
Logo veem, no
centro da sala, ao lado do bolo, o homem amarrado à cadeira, e agora
amordaçado. Ao lado dele Fernando, com a arma apontada para eles.
- Seu filho da
puta, o que você fez com ele?
- Fica quieta,
vadia!
- O que está
acontecendo aqui?
- Cala boca,
gaiato. Se não vai comer azeitona.
Aponta a arma pra
ambos.
“As armas que eu tenho. As armas que eu quero ter. As armas que
eu uso só ferem você. As armas que eu uso só ferem você”
- Porra, cara,
abaixa esse som.
- Cala a boca,
filho da puta. É festa. É festa. Fiquem à vontade. O que querem beber? Vodka,
vinho?
- Eu não quero
nada, eu quero ir embora. O que esse louco fez com você, meu amor?
- Louco, eu? Ele
que come sua irmã e eu que sou louco?
- Cala essa boca,
seu maldito!
- Fica quietinha e
aproveita a festa. É festa! É festa!
Dançava com a arma
na mão.
O homem traidor
chorava com olhos assustados.
Ela, estática, olhava
para Fernando.
O outro estava em
um show de horrores.
- Isso é um circo!
Onde você me trouxe, menina?
- Isso, um circo.
Nada aqui é pior do que o mundo lá fora, seu canalha. E você, tem namoradinha
também? Heim, seu canalha? Olha, tem até aliança no dedo. É de bom tom tirar a
aliança quando for comer alguém. (Fernando gargalhava)
Pegou uma garrafa
de vodka, abriu e tomou no gargalo.
- Toma, filho da
puta!
Tomou.
- Toma, sua vadia!
Tomou.
Jogou na cara do
homem amordaçado.
Cantava alto.
“Longe da confusão de fora o momento perfeito parece estar aqui”
- Cantem comigo.
“Longe da confusão de fora o momento perfeito parece estar aqui”
Balbuciavam.
“Longe da confusão de fora o momento perfeito parece estar aqui”
- Vamos.
“Longe da confusão de fora o momento perfeito parece estar aqui”
- Calem a boca!
- Calem a boca!
Fernando desligou
o som.
… silêncio.
- Calem a boca!
… silêncio.
- É hora de cortar
o bolo. Coloquem os chapéus e joguem confetes na hora dos vivas.
Obedecem.
“... é pique, é pique, é pique é pique é pique, é hora, é hora, é
hora é hora é hora, ra, tim, bum, gato de botas, gato de botas... viva, viva.”
Jogaram confetes.
- E o primeiro
pedaço vai para... a idiota! Viva! Viva!
Jogaram confetes.
Fernando fazia
tudo com a arma na mão, já suja de bolo com confetes.
Ligou novamente o
som.
- Vamos, come!
Come, vadia.
Ela comeu.
- Agora você,
garanhão. Come!
Ele comeu.
- Dá um pedacinho
pro seu namoradinho, dá?
Todos comeram.
Fernando pegou um
pedaço grande com a mão e colocou na boca, fazendo com que o chantily borrasse
os lábios. Com a boca cheia.
- Agora o grand
finale! Vocês dois, tirem a roupa!
- O que? Você está
louco?
- Vamos, tirem a
roupa! Vamos mostrar pro garanhão aqui como se faz!
- Como se faz o
que?
- Sexo, oras.
- Não vou fazer
sexo com ela!
- E eu também não!
- Cara, minha
namorada não vai fazer isso!
- Mas não era isso
que você queria, bonitão? (para o gaiato) Papar a menininha? Pois bem, chegou a
sua chance.
O gato de botas
voltou a amordaçar o tagarelas, se sentou ao seu lado, em uma poltrona grande,
no cando da sala, e de lá apontou o revolver para o casal, engatilhando-o.
A programação das
músicas acabou. O som rodava a gaveta de CD a procura de algo inédito. O
tagarelas tentava em vão se soltar.
… silêncio.
Devagar a menina
tirou a roupa. Era bonita. Tinha barriga saliente e coxas grossas. Seus pelos
pubianos não viam corte há algumas semanas. Tinha os pelos vermelhos. Era como
assistir a um filme pornô da década de 80.
Ele abaixou as
calças.
Tinha um órgão
minúsculo. O medo fez com que seu pau se escondesse.
Ela o masturbou
com medo. Não reconhecia aquele membro. Ela fez com que ele acordasse. E mesmo
acordado era minúsculo. Tinham medo.
Ela o chupou.
Olhavam para a
plateia.
Ela olhava para o
tagarelas, que gritava sem escape.
Fernando mirava
nos seios. Nas coxas. Na bunda. No pau.
Brincava de
ditador.
Se ouvia somente o
mastigar da menina.
Fernando se
excitou.
Ela ficou de
quatro e o homem a invadiu.
Ela gozou olhando
para o amordaçado.
Ela tinha um brilho nos olhos.