segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Conto: Festa de Aniversário

Festa de aniversário

No supermercado escolheu das estantes de festa aquilo que mais lhe chamou a atenção.
37 velas azuis. Pratos pequenos azuis.
Copos de papel azuis. Talheres de plástico azuis.
Bordas de mesa azuis. Chapéus azuis.
Bexigas azuis. Confetes e serpentinas coloridos.
Nos refrigerantes pegou coca, pensando que alguém poderia gostar desse caramelo líquido. Soda.
Pegou duas garrafas de vinho gato negro e uma do porto, 69 reais e 35 centavos.
Dois litros de vodka Orloff.
Pães, doces de lata e duas barras de chocolate.
Cigarros.
Na fila acendeu um deles e logo foi interceptado pelo segurança do estabelecimento. Pensou ser a lei antitabagismo ingrata. Enquanto apagava o cigarro no sapato sentiu-se um idiota. Iria certamente pedir um desconto no valor da compra, já que teve que descartar parte do produto.
Não respondeu quando a caixa perguntou se tudo aquilo era para a festa de seu filho. Achou que as pessoas não precisavam cometer a violência de ter uma educação mentirosa.
Alguém não percebe isso?
Lembrou-se de “faça o seu pedido, senhor”. “batata grande por mais um real, senhor?” Protocolo maldito. Script infinito de um mesmo ator infinito, de um sorriso falso e infinito.
Pagou com o cartão de crédito.
- Bandeira, senhor?
Apontou a marca VISA.
- Bandeira, senhor?
Apontou com dois dedos e balançando o cartão a marca VISA.
- Bandeira, senhor?
Parecia querer fazer com que o homem falasse, já que não respondeu para quem era a festa.
- A senhora é cega?
- Bandeira, senhor?
- VISA.
Era bonita a caixa. Tinha lábios grossos e cabelos cacheados.
Pode ver parte de um de seus mamilos pelo decote. Saliva na língua.
Via luzes que eram resquícios de Natal. OFERTA. OFF. DESCONTO. 30. 40. 50 até 90 por cento. Famílias compravam presentes atrasados.
Saiu.
Estacionou o carrinho de compras ao lado de um Santana 92. Deixou a festa dentro do porta-malas e percebeu que tinha perdido o cartão de estacionamento.
Não ia procurar gente competente para resolver o problema. Renavam, placa e condutor.
Colou em um Gol e quando a cancela abriu passou como se fosse um vagão do primeiro. A cancela tocou o porta-malas como se desse um tapinha na bunda de “vai nessa!”.
No trânsito era calmo e gostava de ouvir música brasileira.
89,7.
eu fico louco eu fico fora de si
Fazia do volante percussão.
Parava nos sinais amarelos, mesmo que alguém atrás desse farol.
Calmamente... Calmamente...
eu fico oco eu fico é bem assim eu fico sem ninguém em mim”
Os vidros sempre fechados, mesmo que o sol castigasse.
Suava às vezes.
Sentia o corpo arrepiar de calor.
Sem ar condicionado.
eu fico um pouco depois eu saio daqui”
Buzinou curto para o porteiro, que logo avistou o velho santana de seu Fernando, vulgarmente chamado de “gato de botas” pelas crianças.
Ele nunca entendeu o apelido.
Entrou no elevador e logo atrás dele entrou a moradora do 96.
Quase todos os dias encontrava dona Cláudia, que saía para o banho de sol de sua gata.
Gata branca e gorda que parecia sempre dopada, olhava para os lados em movimento lento. Era uma esfinge bêbada.
Elevador estático.
Mulher de seios fartos, decote imenso. Pernas grossas e sempre de calça colada, isso fazia com que se visse delineadamente seu órgão genital dividido, apertado.
Havia nele todas as vezes que a via uma vontade quase incontrolável de morder os peitos de dona Cláudia, morder a bunda e com violência invadi-la. Imaginava-se arrancando os mamilos, e mastigava como chicletes.
Saliva na língua e bochechas.
Sentiu inchar entre as pernas.
- Bom dia, senhor Fernando.
- Bom dia, dona Cláudia.
- Vai ter festa hoje?
Tentou esconder os enfeites no saco de papel.
- Não, não. Nada de especial. Faço mais um inverno.
- Primavera, seu Fernando.
- Não, inverno mesmo.
- Mas o ditado diz primavera.
- Depois dos 40 se faz inverno, ou melhor, dona Cláudia, contagem regressiva. Mas que seja primavera então, dona Cláudia.
Que horror, seu Fernando (arrumou o decote, para baixo, quase o mamilo todo apareceu)
Ele sem pudor algum olhou para o decote da mulher. Suas pupilas dilataram, queria mergulhar.
Elevador estático.
Bochechas são represa de saliva.
Como de costume, ela se virou para deixar a gata no chão. A esfinge bêbada caiu. A mulher se virou e deixou a mostra sua imensa bunda, redonda e um pouco flácida. Dividida. A calça branca dava a impressão que aquela bunda se transformava em uma lua, cheia. Qualquer homem romântico cantaria pra essa lua, faria pra ela uma serenata masturbatória.
Ele queria invadi-la e depois jogá-la fora. Jogá-la do nono andar.
Seria carne pulsante, e logo depois carne moída.
- Caso for fazer uma festinha não esqueça de me convidar. O senhor sabe que adoro uma festa. Como dizem, sou arroz de festa. (um sorriso que o escaneou) Pareceu ter percebido o volume na calça do homem.
- Convidarei, dona Cláudia.
Elevador estático.
Apertou o décimo sétimo andar.
Enquanto o elevador subia, via o decote e sentia seu membro crescer. Sem pudor o ajeitou.
Ela deliberadamente viu.
- Ia me esquecendo de apertar o meu andar.
Apertou o número 9.
- Esse elevador sobe rápido, não acha, seu Fernando?
- Sim, sobe realmente rápido. Rápido demais. É a tecnologia, dona Cláudia.
- É sim, seu Fernando, a tecnologia.
Um silêncio perigoso se fez em dois metros quadrados.
Queria enrabar aquela mulher. Certamente se esbarrasse sem querer no botão de pane teria a possibilidade de liberar rapidamente aquila bomba orgásmica que estava dentro de si. E ela certamente se deliciaria por rápidos cinco minutos.
- Até logo, seu Fernando. (virando-se para pegar a gata)
- Até logo, dona Cláudia.
Ela saiu deixando um cheiro de gato no ambiente.
Tentou abrir a porta com os sacos de supermercado nas mãos. Irritou-se e os deixou sobre um vaso, amassando uma das mudas de qualquer coisa.
Eram três chaves diferentes.
   Alto
Meio....................................segredo
   Chão
Em São Paulo morar em apartamento pode ser perigoso, quanto maior o número de suspeitos, maior a probabilidade de arrombamento. 4 apartamentos por andar. 17 andares. 3 blocos. Cada apartamento com aproximadamente 4 pessoas.  Quase 820 suspeitos.
Era dia de seu aniversário.
Às 4 e meia da tarde começou a escolher as músicas que tocaria quando os convidados começassem a chegar. Tentou se lembrar da hora exata em que chegariam. Talvez às 7, ou 8 e meia.
Separou alguns CDs. Em ordem programava:
CD 1 - Titanomaquia
CD 2 - Dois
CD 3 - Cena de cinema
CD 4 - Várias Variáveis
CD 5 - Quatro estações
CD 6 - Descivilização
CD 7 - Extraño
CD 8 - Viva
CD 9 – Rachando Concreto
CD 10 – Eletricidade
PLAY
Será que é isso que eu necessito?
Será que é isso que eu necessito?
Quem é que precisa tomar cuidado com o que diz?
Quem é que precisa tomar cuidado com o que faz?”
Enchia as bexigas e batia os pés
Estourava algumas
Outras enchia até o ponto de estourá-las propositalmente.
Outras enchia e enfiava as unhas.
De dois pacotes com 40 sobraram 19. Azuis.
Separou-as em quatro, um grupo em cada canto da sala, e três delas penduradas no lustre.
Arrastou a mesa para o centro da sala e a decorou com bordas azuis. Colocou os copos azuis, os pratos azuis e os talheres azuis sobre a mesa.
Exatamente às 6 horas tocam o interfone.
- Seu, Fernando. Tem uma entrega aqui para o senhor, posso mandar subir.
- Que entrega? (por momento esqueceu de sua festa de aniversário)
- A dona (qual é o seu nome mesmo?) Matilde disse que tem um bolo pro senhor.
- Manda subir, pego no elevador.
- Pois não, seu Fernando.
Colocou um chapéu de festa azul e aumentou o som.
O sonho é popular. Eu li isso em algum lugar. Se não me engano é Ferreira Gullar falando da arquitetura de um Oscar”
Logo viriam os convidados.
Não tomou banho, não se arrumou, sentia-se limpo escovando os dentes.
A campainha tocou.
   Alto
Meio..................................segredo.
   Chão
- Boa tarde, seu Fernando.
- Boa tarde, (esqueceu o nome)
- Dona Matilde, seu Fernando.
- Boa tarde. Eu disse ao porteiro que ia pegar a encomenda no elevador.
- Pois é, seu Fernando, fiquei esperando, não demora tanto assim pra subir até aqui.
- É a tecnologia, dona Maria.
- Dona Matilde, seu Fernando.
- Pois é, é a tecnologia.
- É. (silêncio)
- Quanto é?
- São 7 quilos. Fica em cento e cinquenta reais, seu Fernando.
Deu uma de cem e uma de cinquenta.
- Sabe o que é, seu Fernando. Como tive que entregar, vou ter que cobrar mais 10 da gasolina.
Deu duas de cem.
- Passar bem, dona Maria.
- Dona Matilde, seu Fernando. A festa já começou, o senhor já está de chapéu? Que azul lindo, o senhor deve gostar dessa cor, não é mesmo.
- Não, dona Maria, eu não gosto de azul. A propósito, eu odeio azul.
Fechou a porta.
Colocou o bolo com cuidado em cima da mesa. Desembrulhou. Leu.
PARABÈNS
- Mulher imbecil, colocou o acento pro lado errado.
- Pegou uma faca e cuidadosamente retirou a camada de doce de leite que formava o acento grave. Cirurgicamente transformou em agudo.
O bolo era azul.
Passou o dedo indicador na lateral da edificação, levando parte da cobertura pra boca. Sentiu o chantily se espalhar pela língua. Açúcar em pasta.
Andava pela sala. De ponta a ponta. Do chão ao teto. Via pela janela e embaixo luzes vermelhas. Via os apartamentos acesos, brancos diferentes. Alguém à frente discutia. Não ouvia, mas gesticulava feroz. Uma mulher.
Fernando andava pela sala. Rodeava a mesa em que cochilava o bolo azul. PARABÉNS. Havia uma cicatriz no acento. Os convidados iam perceber.
Pegou o mesmo bisturi e arrancou o acento. Comeu o erro.
Andava em volta da mesa.
Pegou o saco de confetes e jogou por toda a sala, e por sobre a mesa. Granulou o bolo.
Andava em volta da mesa.
Ajeitou o chapéu e olhou para o relógio. Seu coração pareceu acelerar.
Foi até o seu quarto, abriu a segunda gaveta do criado mudo à direita e de lá tirou um 38. 1-2-3-4-5-6. Municiou. Colocou na parte de trás da calça. Foi à sala e aumentou o som.
O arco-íris tem sete cores. E fui juiz supremo.
Vai, vem embora, volta. Todos têm suas próprias razões”
Colocou uma blusa pesada e saiu rápido.
Meio........................... sem segredo.
Suava enquanto esperava o elevador.
Suava dentro do elevador.
Suava em contagem regressiva.
Saiu rápido do prédio. Não respondeu ao cumprimento do porteiro, que pensou o homem ter esquecido alguma coisa em algum lugar.
Andava pela rua rápida. Eram rápidos os passos. Arrastava os sapatos.
O centro de São Paulo às sete e meia fervilha. Uma cidade em ebulição.
Via rostos passarem, rápidos.
Via mulheres gordas que pareciam rolar rápido.
Viam um homem de chapéu azul.
Homens de gravata.
Sorrisos.
Vendedores de cachecol. Bolivianos.
Vendedores de milho.
Putas encostadas no paredão de um edifício interditado. 1922.
Uma mulher gargalhava e fumava.
Parou pra ver a fumaça, que se desfazia na luz.
Em frente à estação Anhangabaú do Metrô via namorados.
Encoxavam as meninas. Elas se esfregavam.
Sentiu um pingo escorrer pela espinha.
Arrepio.
Ameaçou pegar a arma. Desistiu.
Entrou no fluxo de pessoas e subiu as escadas rolantes em direção à rua Coronel Xavier de Toledo.
Mulheres cochichavam quando viam o homem de chapéu.
Procurava.
Olhava para os lados, feroz.
Seus passos eram longos.
Era um ponto azul em meio a multidão. Não pedia licença, topava ombros e dava cabeçadas em guarda-chuvas.
O chapéu era seu guarda-chuva.
Em frente ao Teatro Municipal parou. Olhou para os lados em um giro de 360. Outro giro. E outro. Olhava as pessoas passarem velozes. Riam do chapéu.
Nas escadarias do Teatro viu um casal, que parecia discutir. A mulher gesticulava como aquela do apartamento à frente.
Ele ameaçou pegar o revólver. E fixo foi em direção ao casal.
Há poucos metros tirou o revólver da calça.
- Cala boca, filha da puta! (para o homem)
- O que foi, cara?
A mulher se distanciou e ia correr.
Ele a pegou pelo braço.
- Vadia, fica aqui!
As pessoas passavam rápido por sua rotina. O teatro depois da reforma era ainda o mesmo, as pessoas não-identificáveis eram as mesmas. As luzes eram as mesmas. As sombras eram as mesmas.
- O que você quer, cara? Fica com minha carteira! Deixa eu ir embora! Solta minha namorada!
- Essa é sua namoradinha, seu filho da puta? Porque ela está te esculachando? O que você fez?
- Não fiz nada, não é da sua conta!
- O que ele fez, menina? Me conta!
- Me larga, seu louco! Eu vou gritar!
- Se gritar vai ter que gritar pelo buraco da bala, sua vadia, porque te dou um tiro que atravessa seu pulmão.
- Você é louco, deixa a gente ir embora, o que você quer? Quer dinheiro, porra! Pega minha carteira!
- Não quero essa porra!
- O que ele fez, menina, me fala, sua filha da puta?
- Deixa a gente em paz, moço. Pelo amor de Deus!
Segurava no braço da menina com força. Fazia com que o cano da arma machucasse as costelas.
- Moço, me diz o que o senhor quer. A gente dá e o senhor vai embora.
- Porra, cara, larga a minha namorada!
As pessoas flutuavam pela falta de percepção e automaticamente caminhavam como formigas, que carregavam seu próprio peso em problemas.
- Escuta aqui, vadia, e você, seu filho da puta, eu quero saber porque estavam discutindo. Se não eu furo essa menina. Porra!
- Tá bom, conta pra ele.
- Conta você, seu desgraçado! (disse a menina)
- Ah, a coisa está começando a ficar divertida. É, conta, seu filho da puta!
- Eu saí com a irmã dela.
- Porra, você é muito filho da puta mesmo.
A menina chora.
- Não chora, menina. A vida é assim mesmo, quando a gente confia em alguém se fode. Tá me ouvindo, se fode.
- É.
- Repete, menina: Se fode!
- Se fode! Se fode!
- Para com isso, cara! Deixa a gente em paz!
- E você ainda ama esse panaca, mesmo depois de ele ter feito isso com você?
silêncio.
- Responde, sua vadia.
- Sim.
- É o seguinte, eu vou deixar vocês em paz sim. Só depois de aceitarem um convite.
- Que convite, cara! Você é louco!
- Está vendo isso que está na minha cabeça?
- Sim. É um chapéu de festa.
- Então vocês estão convidados para uma festa de aniversário.
- Que festa de aniversário? Você é louco!
- A minha festa de aniversário. É o seguinte, chama um cara qualquer aí, menina.
- O que? Como assim chamar um cara qualquer?
- É, porra, vê um bonitão aí e chama. Seguinte, você vai dar em cima do cara e vai convidá-lo pra uma festinha. Vou te dar o endereço (tira do bolso um papel). Vocês vão até aí e falem pro porteiro que querem ir ao apartamento do gato de botas.
- Gato de botas?
- É, porra, gato de botas, não conhece contos de fadas, menina?
- Tudo bem.
- Eu e seu namoradinho sacana estamos indo. Espero vocês lá em dez minutos, no máximo. E se realmente gosta desse filho da puta, é melhor você ir, se não o próximo encontro será no necrotério.
Ele pegou no braço do rapaz, e rápido entraram no fluxo das formigas.
O caminho foi feito sem que nada se tornasse suspeito. Eram grandes e velhos amigos.
- Boa noite, seu Fernando.
- Boa noite, (esqueceu o nome).
Contagem 1-2-3-4-5-6-7-8-9 parou (rezou para que não fosse a maldita dona Cláudia) 10-11-12-13-14-15-16-17.
Meio............................ sem segredo.
Se nascemos só uma vez. Isso é o melhor que pode fazer?”
- O que é isso, cara, abaixa essa música!
- Cala a boca, filho da puta!
- Você é louco. Você fez uma festa. Aonde estão as pessoas, cara?
- Estão chegando.
Colocou o rapaz em uma cadeira e nela o amarrou.
- Você tá me machucando, cara!
- Me diz, seu desgraçado. Como foi comer a cunhadinha? Foi bom?
- Do que você tá falando?
- Você não comeu a cunhadinha, cara? Como foi? Foi bom?
Apontou o revólver para a cabeça do rapaz. Encostou o cano na testa. Forçou.
- Porra, cara, isso machuca! Pelo amor de Deus, cara, não me mata.
Às vezes, só do inferno é que se vê o céu. Saia dos seus sapatos e tente andar nos meus”
- Será que sua namoradinha gosta tanto de você a ponto de vir te buscar no inferno, seu filho da puta?
- Eu não sei, cara!
Ele chora como criança.
- Quando você estava comendo sua cunhadinha você não chorou, né? Como foi, de quatro? Frando assado? Me diz, seu filho da puta!
- Tá bom cara, foi de todos os jeitos. Pelo amor de Deus, não faz nada comigo!
- Seu desgraçado!
Deu uma coronhada no homem chorão.
O interfone.
- Seu Fernando, tem um casal aqui procurando o senhor, pode subir pra festinha?
- Pode, seu (esqueceu o nome). Pode.
- Sejam bem vindos.
Ela entra assustada, e seu acompanhante entra de peito inchado, pensando que tinha faturado a gostosinha.
Logo veem, no centro da sala, ao lado do bolo, o homem amarrado à cadeira, e agora amordaçado. Ao lado dele Fernando, com a arma apontada para eles.
- Seu filho da puta, o que você fez com ele?
- Fica quieta, vadia!
- O que está acontecendo aqui?
- Cala boca, gaiato. Se não vai comer azeitona.
Aponta a arma pra ambos.
As armas que eu tenho. As armas que eu quero ter. As armas que eu uso só ferem você. As armas que eu uso só ferem você”
- Porra, cara, abaixa esse som.
- Cala a boca, filho da puta. É festa. É festa. Fiquem à vontade. O que querem beber? Vodka, vinho?
- Eu não quero nada, eu quero ir embora. O que esse louco fez com você, meu amor?
- Louco, eu? Ele que come sua irmã e eu que sou louco?
- Cala essa boca, seu maldito!
- Fica quietinha e aproveita a festa. É festa! É festa!
Dançava com a arma na mão.
O homem traidor chorava com olhos assustados.
Ela, estática, olhava para Fernando.
O outro estava em um show de horrores.
- Isso é um circo! Onde você me trouxe, menina?
- Isso, um circo. Nada aqui é pior do que o mundo lá fora, seu canalha. E você, tem namoradinha também? Heim, seu canalha? Olha, tem até aliança no dedo. É de bom tom tirar a aliança quando for comer alguém. (Fernando gargalhava)
Pegou uma garrafa de vodka, abriu e tomou no gargalo.
- Toma, filho da puta!
Tomou.
- Toma, sua vadia!
Tomou.
Jogou na cara do homem amordaçado.
Cantava alto.
Longe da confusão de fora o momento perfeito parece estar aqui”
- Cantem comigo.
Longe da confusão de fora o momento perfeito parece estar aqui”
Balbuciavam.
Longe da confusão de fora o momento perfeito parece estar aqui”
- Vamos.
Longe da confusão de fora o momento perfeito parece estar aqui”
- Calem a boca!
- Calem a boca!
Fernando desligou o som.
silêncio.
- Calem a boca!
silêncio.
- É hora de cortar o bolo. Coloquem os chapéus e joguem confetes na hora dos vivas.
Obedecem.
... é pique, é pique, é pique é pique é pique, é hora, é hora, é hora é hora é hora, ra, tim, bum, gato de botas, gato de botas... viva, viva.”
Jogaram confetes.
- E o primeiro pedaço vai para... a idiota! Viva! Viva!
Jogaram confetes.
Fernando fazia tudo com a arma na mão, já suja de bolo com confetes.
Ligou novamente o som.
- Vamos, come! Come, vadia.
Ela comeu.
- Agora você, garanhão. Come!
Ele comeu.
- Dá um pedacinho pro seu namoradinho, dá?
Todos comeram.
Fernando pegou um pedaço grande com a mão e colocou na boca, fazendo com que o chantily borrasse os lábios. Com a boca cheia.
- Agora o grand finale! Vocês dois, tirem a roupa!
- O que? Você está louco?
- Vamos, tirem a roupa! Vamos mostrar pro garanhão aqui como se faz!
- Como se faz o que?
- Sexo, oras.
- Não vou fazer sexo com ela!
- E eu também não!
- Cara, minha namorada não vai fazer isso!
- Mas não era isso que você queria, bonitão? (para o gaiato) Papar a menininha? Pois bem, chegou a sua chance.
O gato de botas voltou a amordaçar o tagarelas, se sentou ao seu lado, em uma poltrona grande, no cando da sala, e de lá apontou o revolver para o casal, engatilhando-o.
A programação das músicas acabou. O som rodava a gaveta de CD a procura de algo inédito. O tagarelas tentava em vão se soltar.
silêncio.
Devagar a menina tirou a roupa. Era bonita. Tinha barriga saliente e coxas grossas. Seus pelos pubianos não viam corte há algumas semanas. Tinha os pelos vermelhos. Era como assistir a um filme pornô da década de 80.
Ele abaixou as calças.
Tinha um órgão minúsculo. O medo fez com que seu pau se escondesse.
Ela o masturbou com medo. Não reconhecia aquele membro. Ela fez com que ele acordasse. E mesmo acordado era minúsculo. Tinham medo.
Ela o chupou.
Olhavam para a plateia.
Ela olhava para o tagarelas, que gritava sem escape.
Fernando mirava nos seios. Nas coxas. Na bunda. No pau.
Brincava de ditador.
Se ouvia somente o mastigar da menina.
Fernando se excitou.
Ela ficou de quatro e o homem a invadiu.
Ela gozou olhando para o amordaçado.

Ela tinha um brilho nos olhos.

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